quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Volta

Ora, veja só. Aqui estou depois de quase 2 anos sem atualização, para divulgar a publicação de minha primeira obra. Bebo-a e comemoro-a, ouvindo Bitches Brew de Miles Davis. Eu não sabia que ela seria a primeira, talvez não quisesse também. Ela surgiu como sendo. E agora grita, extra-vagante como o jazz de Miles Davis. Gostei de reencontrar a escrita aqui, um certo conforto. A cerveja soa gostosa e o vento sopra frio e candente lá fora, e um pouco aqui, passando pelas frestas da janela. Eu muito neguei o tempo, muito jovem que era, agora o curto - e ele me curte, como o couro do boi a secar.

Já estava me esquecendo:
https://www.clubedeautores.com.br/book/124757--Metamorfoses_na_Jugular_Petrificada

Quem quiser ler, pede pra mim, eu mando por e-mail em pdf.

domingo, 10 de outubro de 2010

A tumba esquecida




Dentre o úmido húmus
Uma fenda na terra estéril se escondia
Como a flor no botão
Tal a mulher no vestido
Ou sua senda na calcinha

A gruta molhada e morna
De jardim, só um fruto tinha
E era um pomo reluzente
Lúrido como o astro noturno
Sereno
Calmo como o gozo dos porcos

Ali perto, nem ao menos no interior
Já se sentia o aroma de Artemísia
Os eucaliptos chilreavam exalando
Um cheiro que nem de longe alcançava
A glória daquela preciosidade íntima

Da penetração em diante, o calor invadia tal tumba
O corpo nem se notava vivo
Nem se importava morto
Todavia se interessava o cheiro
E era pura atração
Não sei se, na loucura, putrefação
Mas, era inebriante
E veja que de éter não faço caso

Ora, que ao arrombar aquele orifício pulsante
Sobreveio alívio, tontura e arrepio
Vacilante no sobressalto, ergui o pau
Que vedava a entrada
De um caixão que encontrei na estrada

De estadia não se dizia nada
Valor, cachet, pedágio, nada...
A estranheza coça a nuca dos espertos
E em fato de se duvidar, logo se apresenta
Olha, e nem há de se apoquentar
Aquele que sabe do que se trata
Ou lambeu, ou já viu

O que me ocorreu foi um assalto enérgico
Uma chama que me percorreu nas partes que interessam
Ao ver a cena que causa desmaio, ataque ou ereção
Era um corpo esguio, das primas carnes macias, quentes e
Borrifadas, torneadas como que por uma escultora experiente com o meio das pernas
Uma ninfa luzidia se corrompia com a própria beleza se abrasando
E convidando com o dedo perfurador
Para então cair como morto
Naquele buraco.

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Para lembrar os velhos tempos de Álvares de Azevedo, Augusto dos Anjos...

sábado, 11 de setembro de 2010

Experience




Come to my world of madness, that you will be, no more, but less in the lips of the piper. Let’s get the rain. Bow. Chronos of the cities.
The labor of the carpenter in the eyes of the centopedes.
The lost ways of virginity, of distress.
Desire blows the fire to that cow. Tree into the irradiation of Sirius.

Omicron burned inside the footsteps of morality.
The redundancy rides the inner vortex.
Vacuum over – never-mind – the Furies in the worm electronic sphere.

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Experiência com a poesia fractal em inglês.
Imagem: Alex Grey

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Ode à Príapo.


Eu falo.
Eu membro.
Minha cabeça é uma glande com cérebro.
Não me movimento, estou estático, petrificado. Minhas pernas estão presas por um saco escrotal que as envolve. Ereto, meu corpo se estende, apontando às estrelas.
Jorra então no abismo lácteo, a autofagia.
Homo Erectus.
Eu falo.

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Obs.: Foto, pênis de uma espécie de besouro:

"Em algumas espécies de besouros, os machos arrumaram uma solução drástica para o sucesso reprodutivo. Os pênis possuem espinhos que machucam a genitália feminina, dessa forma a fêmea não é capaz de ser fecundada novamente.

As fêmeas, pelo outro lado, possuem um tecido bem elástico e capaz de se regenerar. Machos que machucam mais possuem uma ninhada só sua, fêmeas que se recuperam rapidamente possuem uma ninhada mais diversa. Nessa dinâmica, os pênis ficam cada vez maiores e mais agressivos e as vaginas se regeneram cada vez mais."
Fonte: http://forum.outerspace.terra.com.br/showthread.php?t=206183

sábado, 7 de agosto de 2010

OAD. 6

I.

O instante pousado no ar.
O bater de asas de uma borboleta metálica.
O abrir e fechar das pálpebras.
O nascer, acordar. O morrer, sonhar.
A viela. O assalto da traíra a engolfar o rio.
Estar preso e sorrir (mostrar os dentes manchados de sangue).
Mostrar as feridas. Rasgar os nervos inchados das lágrimas.
Soltar os soluços inflamados e doentes.
Queimar os ossos dos caros e beber as cinzas doloridas.
Beijar o laço da forca.
Pular com olhar paralelo de braços abertos.
Expirar o fenecer do destroncamento da cervical e mandíbula.
Permanecer de globos calados.
Chorar ardentemente com a boca no pano,
Para abafar a dor e o desespero.

E os gemidos lentos.
As baforadas néscias engolidas com a garganta fechada.
As unhas que gritam e arrancam valas de pesar e
Acalentares de cadáveres.
E os fluidos de desconhecidos que só se encontram com a morte.
O deitar por sobre a terra escura e úmida.

Perder-se nas brumas do arrepender-se.
Ser cego, surdo, mudo, sem paladar e sem tato.
O baque do golpe.
O palor estático.
O estado catatônico e langoroso. Os dedos babando em cima das colheres e das situações humilhantes e espairecidas.
Dormir e não mais despertar.

II.

Os murmúrios, à guisa dos panos e fitas ao vento,
Terminam e desfiguram os calos.
O calar-se é o preceito instável instalado na ordem do Macrocaos.
Se a forma contasse; chegaria por números, no máximo, aos pés da Miséria.
O empilhamento de reminiscências se faz constante.
As raspas de epiderme. Os vestígios.
As marcas não notadas. As notas desgarradas.
Continuidade que aspira acabar-se em prantos.
Nas tangentes e escapadelas.
O culus nas composições é frequente. É recurso inconsciente.
O subalterno ascende como a chama nas chamadas.
O peito tora como o tórax nas queimadas.
O olhar se expande no baixar, e cai distendido.
A queda brusca.
O auxílio é peculiar como as alfaces nas folhas auriculares.
O drama, o estrago. O estribo e o esterco que deglutimos de boa vontade.
Os tragos que cuspimos para ingerir mudança psíquica.
Escapar. Correr e rasgar a gengiva e a testa.
Abrir as irradiações nervosas com as farpas do dia a dia.
Gritar e grunhir imbuído na lavagem.
Ausência, reclusão, descaso – farsas.
Hostes interiores. Conflito subjetivo enterrado abaixo dos pelos.
Encravado. Talhado. Incutido. Humilhado no húmus do cérebro apodrecido.
Noventa agulhas em cada vértebra.
Um punhal a rasgar cada minuto de bem estar. Débil.
Escapar.
Anticorpos para autodestruição corpuscular.
Sanatórios para chupar vagarosamente o que resta de esperança.
As ideias de temperança destituídas. Prostituídas as crianças se calam e não mais perguntam.
Os encaixes de pernas têm apenas ossos secos.
Encaixotados na crueza elas, as línguas, têm convulsões vomitórias e hemorrágicas.
Escalpelar-se. Fugir na calda da estranheza. Morar e esmorecer.
Sufocado à dúvida. Escapar.

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OAD - Outros de Alan David. Quando não tenho título para dar ao poema...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Deitado nos Trilhos

Saudade dos anos de irresponsabilidade. Saudade que parece ser inerente à irresponsabilidade ainda vivida. Dos tempos de colégio, que se passaram rápidos como nunca. Da vida desregrada e curiosa da juventude. Ansiosa por novos sabores, por novos saberes, pessoas, vícios, paixões, pesares. A música rebelde, suja e descabida – a ambrosia de cada dia. A roupa rasgada, mal passada. As bebidas baratas. Drogas baratas. Os jovens baratos. As saídas desavisadas, sem medo ou noção de perigo. Sem testemunho de morte iminente – a morte se punha distante. Longe de nossos peitos de aço e palha por dentro. Saudade dos amores que até a pouco reluziam nas calçadas empoleiradas ao vento das tardes, nas praças e terrenos baldios. De iniciações e términos. Círculos de conluio, de ocultismo adolescente, de disputa e de não saber o que há por ai afora e prestar-se sabendo de muito pelo mínimo que se conseguiu saber até aquele momento. Querer ter razão e direito de falar, brigar, discutir, beber e baforar na cara dos mais velhos hipócritas da história. Hoje ainda carrego muitos desses hábitos, não apenas na memória como outros. Alguns nem ao menos souberam o que é isso. Não explodiram de suas urnas funerárias para se espalhar nas águas límpidas dos esgotos da sociedade cega. Talvez porque não sabiam ou não se deram conta de que eram eles mesmos caminhos para o óbito. Porque quando se encara através dessa perspectiva, a vontade que se tem é de... Chupar todos os seres vegetais, animados e inanimados de uma e somente uma destroçante vez. Deglutir o cabível e o incabível. Englobar até a si mesmo. Para saber como são, que gosto têm, quais efeitos causam, tipos de loucura. Fome de delírio. Experimentar no laboratório a céu aberto ou escondido debaixo dele. Querer morrer e não saber quando.
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Porra.